Agora é proibido proibir

Por Hermann Goulart, Art Presse

O Facebook lançou, há um mês, sua versão corporativa, Workplace, com o impressionante número de cem mil usuários e mais de mil empresas cadastradas. Aberto ao público para teste, em versão beta, sob o nome de Facebook at Work, desde maio deste ano, o programa que pretende redimensionar a comunicação interna das empresas mal foi lançado e já vem dividindo opiniões quanto à sua praticidade e usabilidade.

Anunciado em Londres pela vice-presidente do Facebook para a Europa, Oriente Médio e África, Nicola Mendelsohn, a ferramenta será o primeiro serviço pelo qual a empresa cobrará. De acordo com Mendelsohn, os primeiros três meses de uso serão gratuitos, depois disso, as empresas usuárias deverão pagar US$ 3,00 para cada mil usuários. Assim, explicou ela, será possível manter um layout mais sóbrio e limpo, sem anúncios publicitários.

Criado com base na rede interna do Facebook, a plataforma permite compartilhar documentos, criar salas de bate papo, manter conversas individuais e assistir a vídeos. O interessante, diz Ricardo Braga, diretor da empresa de Relações Públicas e Assessoria de Imprensa Art Presse e da agência digital 140, é que “finalmente o uso das redes sociais dentro das empresas será permitido. E com uma vantagem de substituir a Intranet, que é constantemente criticada por não ser usada regularmente por todos os funcionários”. Há até uma piada contada em algumas empresas: uma fofoca envolvendo alguém da empresa publicada na Intranet é garantia de segredo bem guardado”.

Para garantir que os usuários não sejam bombardeados por informações e, consequentemente, deixem que algo relevante passe despercebido, implementou-se o mesmo algoritmo que do Facebook, que acompanhará o padrão de interação de cada usuário e, assim, colocará em destaque comunicados e informações mais pertinentes para cada perfil.

Este é o primeiro fator de preocupação que foi levantado quando anunciaram o Workplace, diz Ricardo Braga. Ao implementar este algoritmo estende-se a questão da privacidade, velha conhecida da rede social, para o ambiente de trabalho: “afinal, quão confortáveis ficariam as empresas em disponibilizar sua comunicação interna e documentos para uma terceira empresa? ”, pergunta ele.

Outro problema é o chamado “perfil de navegação”. Não é segredo do mercado que as plataformas digitais são grandes coletoras de informações sobre os seus usuários. As plataformas de mídia programática, por exemplo, são abastecidas por estes “perfis” de usuários e os entregam para as agências e anunciantes – os chamados “cookie pools” de agrupamentos (clusters) de usuários. “Quem duvida que o Facebook, que hoje tem acesso a praticamente todos os usuários e sabe onde eles estão e o que estão fazendo, não terá também acesso a estes dados corporativos, completando o que falta em termos de informação?”, pergunta Ricardo Braga.

Há ainda outro ponto no que se refere aos benefícios que a implementação da plataforma pode trazer: o uso da ferramenta implicaria em constantes mudanças de interface, entre os programas usados para criar documentos e a rede social para compartilha-los, o que, de acordo com especialistas, poderia acarretar em uma perda de concentração e consequente redução da produtividade.

Em contrapartida, por ter uma interface bastante similar à do Facebook, notou-se, durante o período de teste, que a adaptação dos usuários é quase imediata, um alívio para aqueles que já passaram por mudanças de sistemas em empresas, que podem ser inicialmente traumáticas e muito antiprodutivas.

Mas a maior ambição do Facebook ao lançar o Workplace é tornar obsoleto o uso do e-mail, promessa feita pelas demais plataformas corporativas, mas que encontraram uma barreira que ainda não foi resolvida. Mesmo com versões para Android e IOS todas as redes sociais corporativas ainda dependem que tanto o remetente quanto o destinatário sejam usuários da mesma plataforma, o que impossibilita uma comunicação universal, proporcionada pelo e-mail.

Para tanto, especialistas acreditam que será necessário um novo movimento disruptivo, muito provavelmente, realizado por uma startup, propondo novos modelos e soluções que podem inclusive estar sendo imaginados e desenvolvidos neste momento em algum “fundo de garagem”.

O verdadeiro sucesso do Workplace, no entanto, só poderá ser medido no início do ano, pois seus serviços começarão a ser cobrados apenas em janeiro de 2017, que será quando empresas e usuários decidirão se, de fato, vale a pena dar continuidade na contratação do serviço.

As métricas a serem atingidas (e superadas) não são tão assustadoras, uma vez que seu único concorrente já ativo é o Slack, que foi lançado no mercado há 4 anos e possui pouco mais de 4 milhões de usuários. A grande ameaça, porém, vem de um produto anunciado em versão de teste na semana passa, o Microsoft Teams, pois a expectativa é que seu uso seja melhor adaptado às ferramentas do Microsoft Office, utilizada em maior escala por profissionais.

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